quarta-feira, 21 de abril de 2010

.: Mãe também é gente! :.


Bom, todo mundo que lê este blog sabe das minhas escolhas para a maternagem e meus (queridos) radicalismos sobre chupetas, leite artificial, amamentação exclusiva, etc. Mas hoje ouvi uma frase que me deixou muito, muito perturbada (e acho que não foi a primeira vez que ouvi isso). "Ah, é que nem todo mundo quer ser uma mãe perfeita como você", vindo de uma mãe que deixou de amamentar seu filho aos 4 meses, pois estava na hora de ele ficar independente.
Minha vontade era gritar: eeeeeeeeeeeepa! Não quero ser perfeita não! Nunca quis isto pra minha vida! Quero poder errar, sim! Mas quero errar consciente, quero errar porque EU escolhi. Quero errar porque o EU fiz deu errado. Quero ser A culpada. Mas quero botar a mão na massa, quero ter a liberdade de decidir e de pensar sobre o caminho a seguir. O que NÃO quero e não quero mesmo é fazer qualquer coisa porque minha mãe fez, ou a vó fez, ou a vizinha disse que era ótimo, ou porque "é assim e pronto" ou pior: porque "todo mundo foi criado assim e ningué morreu!".

Não quero passar por uma cesárea desnecessária, só porque "o importante é que seu filho tá bem e com saúde" (coisa que ele estaria em um parto natural saudável);
Não quero dar chupetas porque "ele vai ficar mais quietinho";
Não quero dar Nan, Nestogena e afins porque "teu leite é fraco" ou porque "ele mama demais";
Não quero dar comida antes dos seis meses porque o "leite não sustenta" ou "pra ele ficar mais forte" ou "que mal tem?" (como se o leite não fosse um alimento completo para o bebê)
Não quero dar gorduras ou doces porque "você não vai conseguir segurá-lo pra sempre longe dessas delícias" (como se o paladar não fosse algo contruído, ensinado).

Resumindo: não é porque prezo pelo natural que não posso tomar uma coca-cola num dia.

Quero um outro mundo possível, SIM! Quero tentar, quero ir por outro caminho. E quero também poder voltar se assim melhor entender.
Isto não significa que não passaria por uma cesárea se ela fosse estritamente (e repito estritamente) necessária, baseada em evidências, não em mitos da medicina.
Não significa que não tentei dar chupeta algumas vezes quando o cansaço superou a vontade de brincar ou acalentar meu filho. Não significa que até hoje tente dar esta maldita chupeta quando Jorge insite em escalar o sofá, puxar o rabo da Jurubeba ou chorar sem parar atrás do meu colo, quando eu preciso varrer a casa, cozinhar, lavar, me desdobrar e redobrar.
Não significa que nunca pensei "nossa, ele mama muito, será que uma mamadeira não me ajudaria?".
Não significa que toda vez que como um bolo de chocolate que amo não pense: será que sou egoísta de privá-lo desse prazer tão pequenino?

E em todas estas vezes paro, penso, repenso, leio, busco colo de mãe, converso com amigas. Me canso, choro, me estresso, quero um momento pra mim, sem ninguém, sem filho, sem choro, sem fralda, sem banho, sem nada. SIM! Mãe também é gente! Tem tudo que todo mundo tem! Tem mau-humor, tem preguiça, tem cansaço.
Mãe não é só este poço de abnegação de que todos falam. Mães também negociam consigo mesmas. Negociam suas vontades, seus desejos, seus eus, se desafiam, desafinam e desalinham.
Mas só nós mães conseguimos nos repartir assim, dividir, desdobrar, como um origami difícil de ser decifrado. Assim em dobraduras vamos desvendando os caminhos desse ser mãe/mulher.

Um comentário:

  1. Oi, Kate!

    Estava procurando dicas para ajudar a estimular o trabalho de parto naturalmente, sem precisar induzir e acabei caindo no seu blog.

    Passei um tempão aqui lendo posts e me identifiquei de cara com você!

    Estou grávida de 41 semanas, abstraindo as inumeras pressões das cesariadas que me olham como doida de esperar "tanto tempo" pra ele nascer. Sem contar nas pilulas de otimismo do tipo "nao sei pra que isso, esperar tanto pra acabar em cesarea"...rs

    Quero saber se posso linkar seu blog nos meus favoritos!

    Beijos e tudo de bom!!

    Marcelle
    marcellecristhi@gmail.com

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