quarta-feira, 25 de maio de 2011

.: Quando a cesárea é violência institucional? .:



Decidi retomar o blog, embora sem tempo, porque tenho ouvido muitos relatos de parto de amigas que acabaram em cesáreas desnecessárias e totalmente indesejadas.
Pra começar é preciso esclarecer que uma coisa é a mulher que decide desde o início que quer ter uma cesárea, por medo, insegurança, comodismo ou qualquer outro motivo pessoal-social, que poderemos discutir depois. Nesses casos houve pelo menos a liberdade de escolha por parte da mulher. 
Agora, quando a mulher está decidida por um parto normal, deseja ter seu filho de parto normal e para isso escolhe um obstetra em quem confia por ser a favor da decisão e este mesmo obstetra que passou a gravidez inteira vira pra esta mulher nas semanas antes do parto e dá uma desculpa esfarrapada para fazer uma cesárea, aí é outra história. E estes casos não são raros. Uma amiga, que desejava um parto normal hospitalar, confiando em seu obstetra, acabou tendo uma cesárea com 38 semanas de gestação porque tinha cadidíase em, segundo seu médico, isto era um fator para cesárea, pois poderia passar para o bebê. Outra amiga, teve uma cesárea porque estava com 40 semanas e se esperasse mais, segundo seu médico, seu bebê poderia precisar de uma UTI Neonatal, coisa que seu plano não cobria e ela não poderia pagar. Ambas não entraram nem em trabalho de parto. Claro que seus filhos nasceram perfeitos e o momento foi mágico como para qualquer mãe que receber seu tão esperado filho pela primeira vez nos braços. Ambos os bebes são saudáveis e lindos. Ambos os momentos foram emocionantes e marcaram a vida destas mulheres. Mas a questão é outra. 
Em ambos os casos, houve abuso de poder por parte dos médicos, além de informações incorretas. Candidíase não é impeditivo de parto normal (OMS), muito menos indicação para cesárea. Uma gestação por chegar até 42 semanas (http://www.partodoprincipio.com.br/conteudo.php?src=mitos&ext=html). Não houve, portanto, respeito nenhum à escolha das gestantes e isto é um tipo de violência institucional (http://www.ess.ufrj.br/prevencaoviolenciasexual/index.php/tipos-de-violencia-cometida-contra-a-mulher).
Pode-se falar da falta de empoderamento das mulheres, da falta de informação, que devemos lutar pelo nosso parto, etc. Mas, o fato, é que nas últimas semanas de gestação, a última coisa que queremos é brigar. Estamos sensíveis demais e por isso, muitas vezes, contamos com a confiança no obstetra.  Claro, que muitas, encontram força para mudar de obstetra aos 45 do segundo tempo, mas a grande maioria não.  
O obstetra, deveria ser o primeiro a respeitar a escolha das gestantes. Ele é o profissional, ele fez um tal juramento, ele é regido por leis e, por isso, deveria ser responsabilizado por suas ações. Mas médico, no Brasil e imagino que no resto do mundo, é uma espécie de Deus todo poderoso, incontestável, protegido pela capa da ciência, da razão e da verdade. MÉDICO TAMBÉM É GENTE. Erra como todo mundo. Mente, às vezes, como todo mundo para defender seus interessantes.  Por isso, pode (e deve) ser contestado, perguntado, é pra isso que ele tá lá. 
É muito difícil que uma mulher recém parida, vá denunciar seu médico. Ela está muito ocupada pra isso, amamentando, cuidando, maternando seu bebê. Mas, de qualquer forma, fica aqui a dica. A MULHER TEM O DIREITO LEGAL DE ESCOLHER SEU PARTO. E tem meios legais de garantir isso. 

Só para constar, em ambos os casos os obstetras estavam realizando mais de uma cesárea ao mesmo tempo. Seria competência médica ou simples comércio?

Para ler mais sobre nossos direitos e sobre a cultura perinatal no Brasil: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=35995


quinta-feira, 21 de abril de 2011

.: Às vezes, somos sexo frágil .:


Eu nunca acreditei nesta história de que a mulher é o sexo frágil. Meu feminismo sempre acreditou na igualdade de oportunidade e aceitação das diferenças entre os sexos, mas nunca me encarei ou encarei as mulheres como frágeis, ou delicadas ou quaisquer destes estereótipos dóceis e passivos. No entanto, agora, em minha segunda gravidez, esperando por Francisco, 5 meses na barriga, me sinto extremamente frágil. Mas descobri que esta palavra não está relacionada à força ou a falta dela.
A gravidez de Jorge correu tranquilamente, quilos equilibrados, hormônios controlados, exercícios, meditação, alimentação saudável. Francisco não goza dos mesmos privilégios. Trabalhando em duas escolas públicas, 4 vezes na semana, fazendo doutorado e cuidando de um filho de 1 ano e 8 meses, fica mais difícil arrumar tempo pra cuidar do corpo, da pele, da mente. Meus hormônios parecem um panela fervendo, tudo me irrita e sinto uma enorme necessidade de ser bajulada, acarinhada, aconchegada, como nos abraços e beijos que Jorge me dá ao longo do dia.
Eu nunca, em 27 anos de existência havia admitido pra mim mesma ou pra qualquer outra pessoa que sou ou posso ser assim. Eu sempre fiz questão de ser a super heróina, mulher de vanguarda, briguenta, inabalável. E agora haja terapias e blogs para lidar com isso! A gravidez talvez tenha este poder de virar a gente do avesso e nos fazer olhar pra gente mesmo, pras nossas entranhas físicas e existenciais.
Francisco, prometo que vou me cuidar mais, viu?

domingo, 10 de outubro de 2010

.: A ditadura da ditadura ou quais os direitos da mãe?:.

Eu sempre fui punk-rock: cerevejada, madrugada, sinuca, samba, suor, linguiça, torresmo, seguidos de divertidos porres e ressacas. Mas, desde que emprenhei mudei de hábitos. Não por mim, porque é muito mais fácil e rápido cozinhar um miojo que feijão azuki com arroz integral e purê de abóbora. Mas o que eu estaria oferecendo ao Jorge? E como mãe, até onde vão os meus direitos de interferir na vida dele? Ou será que só devemos respeitar o direito dele quando ele tiver idade suficiente pra cobrá-los?

Consigo aceitar o fato de que no mundo moderno, muitas mulheres tem de deixar seus filhos para trabalhar e aí o leite artificial pode sim ajudar aquelas que não tiveram sucesso em tirar leite (o que dá um trabalhão). Ok, ok, sem trabalho, sem dinheiro, sem vida de qualidade pro filho. Conheço algumas mulheres que queriam amamentar, mas eram autônomas e mães solteiras, chefes da matilha, tinham de trabalhar o dia todo, sem direito à licença, e o leite artificial foi a solução pra aquele momento. Há casos e casos.

Hoje a mulher materna mais sozinha. O núcleo familiar ficou reduzido ao mulher, marido, filho. Assim, as figuras femininas que antes ajudavam na maternagem, como tias, mães, avós, etc, geralmente estão longe, tornando as tarefas maternas muito mais difíceis.

Mas, sinceramente, quando vejo um bebê de 2 meses tomando leite artificial tendo uma mãe saudável, cheia de leite, ainda me dói. De todas as intervenções que nós, mães, podemos escolher fazer (chupetas, chás, remédios, etc) esta, pra mim, é a mais inexplicável. Porque LEITE BOM É LEITE DE MÃE. E não é bom só pelo vínculo (que pra algumas mães pode ser ruim), mas é bom pra saúde de seu filho. Previne doenças que ele poderá carregar pra toda a vida dele, como alergias, por exemplo. Não que seu filho não terá doenças nunca, mas ele terá muito mais resistência pra combatê-las.

Agora, uma mãe com leite, que está de licença em casa pra cuidar de seu filho oferecer um leite cheio de conservantes e outros "industralizantes" que comprometem a saúde de sua cria, ao meu ver, deveria pensar ao menos onde terminam seus direitos e começam o do filho. Minha mãe diz que a liberdade da gente termina onde a do outro começa.
Além de trazer malefícios pra saúde de seu bebê (talvez não agora, mas a longo prazo), o leite artificial mexe com o paladar, que por sua vez mexe com hábitos alimentares. Fora que pode levar a um desmame precoce e sem leite de mãe a saúde do bebê fica mais comprometida.
Gente, amamentar exclusivo até os 6 meses de vida é mais do que consenso entre os especialistas. Amamentar até os 2 anos ou mais é recomendado pela Organização Mundial de Saúde. E isto não foi criado do nada. O bebê humano é dependente, se não o fosse nasceria andando e falando e duvido muito que dissesse: "ei, mãe, me dá uma mamadeira de NAN 1, aê!"

"Ah, tá, Kate, papo chato, eu cresci assim, tomei isso, aquilo, aquilo outro e to viva!"

Bom, eu amava papinha nestlé. E passei minha vida adulta a base de miojo e linguiça e sobrevivi também. Eu já tomei porres que me deixaram com quase um AVC no dia seguinte e estou aqui. A resposta é:  O SER HUMANO SOBREVIVE DE QUALQUER MANEIRA, por isso somos humanos, nos adaptamos, nos reinventamos.
A questão é: a que preço?

Nossas crias são os seres mais fortes do mundo, o recém-nascido é forte, afinal entrar em contato com o mundo é algo perigoso, mas mesmo assim eles estão lá. Eles sobrevivem. Mas se podemos oferecer qualidade porque optamos pelo inverso. Porque o fácil tem de se opor ao bom?

Não, naturebice não é moda, não é ditadura, não é ter que fazer algo só porque dizem que é assim, mas é sim respeitar o curso natural das coisas, respeitar o outro (mesmo que ele ainda não fale e só saiba chorar), é não ceder às pressões culturais que nos levam ao caminho mais fácil, mesmo que signifique desrespeitar alguns direitos, afinal, ninguém vai ver e todos vivem de qualquer maneira. Esta sim é uma ditadura perversa
disfarçada de democracia, de meio termo, que não passa de mera reprodução do senso comum.

sábado, 9 de outubro de 2010

.: Mudando hábitos para uma amamentação prolongada :.

Já ouvi muita coisa por amamentar Jorge até hoje (1 ano e 2 meses e não pretender parar tão cedo): que ele vai ficar muuuuuuuuito dependente, inseguro, que vai ficar viciado em peito quando crescer, que meu leite não serve mais pra nada, enfim, mil coisas que não acredito. No blog Mamíferas tem mais explicações.
E foi neste blog que li umas das coisas mais legais a respeito de um desmame parcial. Pra ler é só clicar aqui. E que me ajudou a pensar em como manter a amamentação de forma prazerosa.
Sim, porque de uns tempos pra cá a amamentação tinha se tornado insuportável pra mim. E o caminho mais perto seria desmamar meu filho, afinal, pra muitos 1 ano é mais que suficiente. Mas como gosto de trilhas, perferi continuar em meu percurso amamentando minha cria, acreditando no poder do meu corpo e da natureza.
Então, começamos ontem a mudar os hábitos. Jorge sempre mamou em livre demanda, a hora que quis, como quis, onde quis. Nunca deixou de comer por causa disso. Bate um pratão e depois mama e dorme. O peito era a chupeta dele. E embora a chupeta cause mais malefícios a saúde de um bebê, nunca vi niguém falar nada a respeito de um bebê dormindo de chupeta, mas já ouvi cada coisa por meu bebê dormir no peito...
Eu nunca havia contado quantas vezes ele acordava de madrugada, simplesmente deixava o peito lá e pronto. Ontem eu contei e ele acordou em média de 2h em 2h. Aí percebi que meu bebê estava com um padrão de sono de um recém- nascido e isto não estava bom pra mim e creio que nem pra ele. Resolvi mudar as coisas as 02h e 30h.

- filho: a partir de agora, a mamãe não vai mais te dar o peito toda hora, tá? porque a mamãe não está gostando disso. Então, vamos tentar durmir hoje sem peito. Mamãe vai te dar colo, vai ficar do seu lado, não precisa ter medo, não precisa ficar assustado. Pode chorar que eu vou te acalmar, mas o mamá agora vai dormir e só vai voltar de manhã, depois que o sol nascer, tá?

Dormimos as 05:30, entre cochilos e chorinhos. As 06h ele acordou e dei o mamá como combinado. Adormecemos exaustos. Hoje tentaremos de novo.

Eu esperava que ele se desinteressasse naturalmente pelo peito, que fosse um processo sem  intereferências, como foi sua gestação, como foi seu parto, mas desta vez não foi assim. E o mais difícil pra mim foi aceitar esta idéia, a idéia de quem nem sempre damos conta de tudo.

Bom, pelo menos assim, espero que a amamentação siga seu ciclo até um desmame total natural, enquanto for bom pra ambos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

.: 1 ano de Jorge! :.

Você fez 1 ano, meu filho! E entre noites mal-dormidas, stresses e birras, só consigo pensar em como você é lindo, especial, e me faz aprender todo dia a ser um pouco melhor. Me faz aprender a fechar a boca, ouvir mais (um exercício árduo pra mim que tenho uma boca enooooorme!) e abrir os braços, como num texto que li recentemente enviado por uma amiga.

Que a Natureza e o Universo, esse casal que tem um monte de nomes diferentes - Acaso, Sorte, Deus, Destino, etc - possa estar sempre, sempre ao seu lado, te dando tudo de bom pra que você possa viver a sua vida intensamente, porque esta, filho, ah! é boa demais!!! E a sua tá só começando...

Todo amor do mundo pra ti!

terça-feira, 6 de julho de 2010

.: Abrindo mão dos conceitos ou como entrar para a Matrix :.

Sabem a Matrix, do filme de mesmo nome, onde há uma realidade virtual que simula o cotidiano dos seres humanos, enquanto estes estão adormecidos e controlados por máquinas? Eu e Jorge acabamos de entrar nela.
Até aqui vivemos o sonho de mãe e filho à moda antiga, com muito tempo um para o outro, indo pra casa dos avós, brincando na pracinha no fim da tarde, sem alimentos artificiais, sem conservantes, sem remédios, sem realidades que simulam realidades - um pó que vira leite ou um leite que é farinha, ou um bico de mamadeira que parece peito, isto que é aquilo, etc - estávamos fora da Matrix. E nesse lugar nosso não haviam alergias, nem rinites, nem bronquites, nem todos os outros ites. Não haviam hipoglós, assaduras, farinha lácteas ou mucilons. Não haviam tosses, nem febres, nem catarros ou médicos ameassadores - cuidado, pneumonia!!!
Mas a modernidade é cruel, já dizia Baudelaire. E como o capitalismo selvagem é bem democrático e não deixa ninguém de fora, tivemos de abandonar nosso Oásis e adentrar pelo mundo da Matrix, onde as mães e pais trabalham sem cessar, os filhos vão pra creche, para serem alimentados e cuidados por outros, estranhos que se tornam tão intimos que sabem mais da rotina de seu bebê do que você.
Sim, há o outro lado da moeda, na Matrix adquirimos super poderes, somos capazes de uma infinidade de coisas, aprende-se rápido a socializar-se, talvez justamente para sobreviver nesta realidade inventada. Como bons seres humanos nos adaptamos e fazemos do anormal o cotidiano, do artificial o natural, do virtual o real.
Hoje quando peguei o frasco de antibiótico (sim, antibiótico para curar uma catarreira que não cessa) me questionei pela milésima vez qual era o caminho que queria pra educação do meu filho. Será mesmo que estou fazendo o que creio? Será mesmo que não há outra saída? Será mesmo que há regra e que todos estamos fadados a ter alergias respiratórias ou algo do tipo, afinal, todo mundo tem...?
Coloquei a seringa em sua boca tão pequena enquanto você dormia e com todo cuidado empurrei o liquido pra dentro, na descrença de quem acredita que sempre há outro caminho. Você se remexeu e nem acordou. Voltou a dormir calmo e tranquilo. Eu somente agradeci à Natureza pelo presente, por estar ali, velando seu sono, acreditando que sim, sempre haverá outro caminho, que sempre poderemos entrar e sair da Matrix a hora que bem entendemos...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Adaptação

Ele foi pra Creche.
Eu quase morri de ficar sem ele.
Chorei.

Hoje, duas semanas depois, ele ficou lá sem chorar.
Eu?
Vou demorar mais um tempinho até me adaptar.