domingo, 10 de outubro de 2010

.: A ditadura da ditadura ou quais os direitos da mãe?:.

Eu sempre fui punk-rock: cerevejada, madrugada, sinuca, samba, suor, linguiça, torresmo, seguidos de divertidos porres e ressacas. Mas, desde que emprenhei mudei de hábitos. Não por mim, porque é muito mais fácil e rápido cozinhar um miojo que feijão azuki com arroz integral e purê de abóbora. Mas o que eu estaria oferecendo ao Jorge? E como mãe, até onde vão os meus direitos de interferir na vida dele? Ou será que só devemos respeitar o direito dele quando ele tiver idade suficiente pra cobrá-los?

Consigo aceitar o fato de que no mundo moderno, muitas mulheres tem de deixar seus filhos para trabalhar e aí o leite artificial pode sim ajudar aquelas que não tiveram sucesso em tirar leite (o que dá um trabalhão). Ok, ok, sem trabalho, sem dinheiro, sem vida de qualidade pro filho. Conheço algumas mulheres que queriam amamentar, mas eram autônomas e mães solteiras, chefes da matilha, tinham de trabalhar o dia todo, sem direito à licença, e o leite artificial foi a solução pra aquele momento. Há casos e casos.

Hoje a mulher materna mais sozinha. O núcleo familiar ficou reduzido ao mulher, marido, filho. Assim, as figuras femininas que antes ajudavam na maternagem, como tias, mães, avós, etc, geralmente estão longe, tornando as tarefas maternas muito mais difíceis.

Mas, sinceramente, quando vejo um bebê de 2 meses tomando leite artificial tendo uma mãe saudável, cheia de leite, ainda me dói. De todas as intervenções que nós, mães, podemos escolher fazer (chupetas, chás, remédios, etc) esta, pra mim, é a mais inexplicável. Porque LEITE BOM É LEITE DE MÃE. E não é bom só pelo vínculo (que pra algumas mães pode ser ruim), mas é bom pra saúde de seu filho. Previne doenças que ele poderá carregar pra toda a vida dele, como alergias, por exemplo. Não que seu filho não terá doenças nunca, mas ele terá muito mais resistência pra combatê-las.

Agora, uma mãe com leite, que está de licença em casa pra cuidar de seu filho oferecer um leite cheio de conservantes e outros "industralizantes" que comprometem a saúde de sua cria, ao meu ver, deveria pensar ao menos onde terminam seus direitos e começam o do filho. Minha mãe diz que a liberdade da gente termina onde a do outro começa.
Além de trazer malefícios pra saúde de seu bebê (talvez não agora, mas a longo prazo), o leite artificial mexe com o paladar, que por sua vez mexe com hábitos alimentares. Fora que pode levar a um desmame precoce e sem leite de mãe a saúde do bebê fica mais comprometida.
Gente, amamentar exclusivo até os 6 meses de vida é mais do que consenso entre os especialistas. Amamentar até os 2 anos ou mais é recomendado pela Organização Mundial de Saúde. E isto não foi criado do nada. O bebê humano é dependente, se não o fosse nasceria andando e falando e duvido muito que dissesse: "ei, mãe, me dá uma mamadeira de NAN 1, aê!"

"Ah, tá, Kate, papo chato, eu cresci assim, tomei isso, aquilo, aquilo outro e to viva!"

Bom, eu amava papinha nestlé. E passei minha vida adulta a base de miojo e linguiça e sobrevivi também. Eu já tomei porres que me deixaram com quase um AVC no dia seguinte e estou aqui. A resposta é:  O SER HUMANO SOBREVIVE DE QUALQUER MANEIRA, por isso somos humanos, nos adaptamos, nos reinventamos.
A questão é: a que preço?

Nossas crias são os seres mais fortes do mundo, o recém-nascido é forte, afinal entrar em contato com o mundo é algo perigoso, mas mesmo assim eles estão lá. Eles sobrevivem. Mas se podemos oferecer qualidade porque optamos pelo inverso. Porque o fácil tem de se opor ao bom?

Não, naturebice não é moda, não é ditadura, não é ter que fazer algo só porque dizem que é assim, mas é sim respeitar o curso natural das coisas, respeitar o outro (mesmo que ele ainda não fale e só saiba chorar), é não ceder às pressões culturais que nos levam ao caminho mais fácil, mesmo que signifique desrespeitar alguns direitos, afinal, ninguém vai ver e todos vivem de qualquer maneira. Esta sim é uma ditadura perversa
disfarçada de democracia, de meio termo, que não passa de mera reprodução do senso comum.

Um comentário:

  1. Presente de leitora:
    http://tcarlotti.blogspot.com/2011/02/aquele-abraco.html

    Beijo!

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