sexta-feira, 3 de abril de 2009

::: Na volta que o mundo deu. Na volta que o mundo dá :::

Como este blog é uma retomada de escritos e pensamentos iniciados com o blog antigo – Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos - e uma nova tentativa de ter um blog (novamente), nada mais justo do que falar de (re) inícios e (re) começos, ciclos e círculos da vida. Recomeçar é pra mim uma aventura muito prazerosa. E misteriosa também. Os recomeços trazem um gosto bom de lembrança. De uma lembrança nova, uma lembrança que é aquilo, mas que também é isto, que anda de mãos dadas com o novo. Dizem por aí que a vida é feita de ciclos. Ou seria de círculos? Quantas vezes nesta vida somos capazes de ir, vir, voltar, seguir, desfazer, refazer, tecer? E assim construírmos as coisas e a nós mesmos?

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COSTURAS E RETALHOS


Num dia destes sentei diante da máquina de costura de minha falecida avó. Olhei a coleção de botão guardada numa empoeirada caixinha velha e aventurei-me nas linhas e carretéis em uma bainha nitidamente torta. Sorri. Puxei o fio da linha. Desfiz. E me pus a coser novamente o retalho.
Novamente o desenho tracejado denunciava minha total falta de aptidão e familiaridade com linhas e agulhas. Sorri de novo. E me pus e inventar desenhos nos pedaços de panos, tecendo e destecendo os fios, quando me dei conta da brincadeira: estava eu a fiar e desfiar as linhas que havia costurado nestes últimos tempos. Puxando os fios e pondo-me a recosê-los, comecei a repensar atitudes e comportamentos, desfazendo alguns pontos, refazendo outros e criando mais alguns.
Está certo... fiar e desfiar linhas dá um certo trabalho. Requer que pensemos os caminhos pelas quais as conduzimos, criando novos rumos para que as coisas se aprumem. Mas, levando as coisas com leveza e considerando que desfiar é parte do processo de fiar, bem como o de descoser é parte do coser, do desconstruir do construir, e assim por diante, conseguimos entender que é assim que se tece o fio da vida. Ninguém alinhava uma bela costura sem antes puxar algumas linhas... (e também xingar algumas vezes a máquina de costura como se ela fosse a grande culpada pelo caminho que conduzimos nossas linhas!).
De pedaço em pedaço, de idas e vindas, tecemos os fios que regem a nós mesmos. Aqueles que ficam por debaixo dos nossos panos cheios de remendos e buracos escondidos que sempre tentamos disfarçar, bem no viés da costura.
Tecer é processo, tal qual como crescer. Tecendo e destecendo fios, cosendo e descosendo panos criamos redes de relações alinhavadas por afetos. Só assim formamos essa enorme colcha de retalhos onde nos relacionamos com a gente mesmo e com o(s) outro(s).

2 comentários:

  1. Kate, primeiramente, parabéns pelo texto!
    Muito bom!

    "segundamente", parabéns por tecer a vida com paixão!

    Vou passar sempre aqui!

    Beijos procês!

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  2. Sempre serei sua primeira e maior fã, por isso quando as suas escritas forem reconhecidas e você for uma escritora famosa, não se esqueça de mim!
    Sua prima mais coruja!

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