quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

.: Relato de Amamentação Exclusiva :.


A primeira vez que te amamentei senti Tesão. Tesão. Não aquele tesão vulgar do desejo de posse, mas o Tesão sublime, completo e inteiro que envolve todo o corpo, que nos amolece por dentro. Sim, este mesmo que senti quando você escorregou pelas minhas entranhas, o mesmo que se sente quando se entrega de corpo e alma ao ser amado. 
Eu ali, dolorida dos procedimentos médicos desnecessários e intervencionistas, te olhando, olho no olho. Você abocanhava voraz a auréola do meu mamilo. Eu desajeitada pensava: "será que está saindo alguma coisa?", "será que é assim que se faz?", e você me ensinava instintivamente o que fazer. 
Subimos para o a enfermaria. Cansados da longa viagem que fizemos, adormecemos, não sei se primeiro eu ou você, extasiados. Acordei com imensa fome e creio que você também, ofereci de novo o seio e você abocanhou novamente. E novamente fiquei ali te olhando, sentindo seu cheirinho. Lembrei do cheirinho que eu adorava sentir quando criança dos filhotinhos da minha cadela. Cheirinho de placenta, secreção, sangue, gente, animal. Quanto mais você mamava, mais sentia meu utero contrair, minha barriga murchar. 
Não impus horários e desliguei os relógios, menos o biológico. Os dias que se seguiram foram intensos. Me preocupei quando você dormiu 5 horas seguidas sem mamar!!! Por outras vezes desejei que você dormisse só para que eu pudesse dormir também. Algumas vezes me entristeci por não ter tempo, por não poder cuidar de mim, por não ter mais braços para que pudesse te dar de mamar e fazer comida, ou lavar roupas, ou  me alimentar ao mesmo tempo. Me vi confusa e sozinha nesta simbiose louca e gostosa de amamentar. 
Na primeira semana, um dos seios rachou. Ajeitei sua pega, tinha que abrir mais a boquinha tão pequena para que não me machucasse. Tomamos banho de sol juntos, pelados, sentados no chão. A rachadura sumiu. Não senti dor e nos adaptamos bem, contrariando a todos que diziam que não íamos conseguir.
E não faltaram conselhos tortuosos: seu leite vai secar, você não vai aguentar, dá água pra este menino, isso é cólica, dá tylenol, dá chá de erva-doce, dá nan, dá cremogema com leite de vaca, dá tudo, mas guarde esse peito pra dentro, afinal, nossa sociedade admite bundas, mas nunca seios maternos à mostra...
Mas não cedi. Muitas foram as vezes que pensei em chupetas, mamadeiras e fucnhicóreas. Mas não cedi. Preferi dançar contigo ou andar pela casa com você ao peito, mesmo com todo mundo dizendo para não te amamentar de pé, pois você ficaria mal acostumado. E talvez tenha ficado, porque até hoje, você às vezes "pede" pra passear mamando, e eu deixo.
O Sling chegou junto com o primeiro mês e tudo foi se acalmando, entrando nos eixos.
Slingando, você mamava enquanto eu comia, passeamos por aí e ele é nosso cantinho preferido. 
Agora você está no quinto mês e muitas foram as descobertas e as fases até aqui. As cólicas passaram e você dorme cada dia melhor, fica mais independente. Descobriu os pés, em seguidas as mãos e com elas os dois seios! Brinca com um enquanto mama em outro. Gargalha, solta gritos, pula, quer sentar, já rola na cama, agarra tudo, olha atento, atende aos sons e chamados. Charmoso, sorri pra tudo e pra todos. Meu galazinho sapeca. Não estranha colo de ninguém, está sempre bem disposto, mas já sabe reclamar quando quer algo e não lhe dão. O que vêem como "manha" vejo como expressão, comunicação, uma fala secreta entre eu e você.
E é curioso que os mesmos que perguntam o que faço para ter um bebê tão tranquilo e sorridente são os mesmos que dizem que o colo vicia, que o peito deixa mal acostumado, que mandam te deixar chorar pra aprender. Mundo esquisito esse...
Não deixo, meu filho. Sempre que posso (e às vezes não posso, porque estou no banheiro ou algo assim) atendo imediatamente ao seu chamado, me prontifico, te escuto e se for peito, me abro, me ofereço. Não importa onde nem como, no metrô, no trem, no ônibus ou andando na rua, no silêncio de casa, no barulho da festa. Sem pudor e sem dor. Às favas com o falso moralismo hipócrita desta década de início de século XXI! Porque eu é que não vou esconder meus medos em você. Ao contrário prefiro escancará-los pra que você me ensine a lidar com eles, como tem ensinado até aqui. Afinal, só tu, que me viu por dentro e revirada pode saber mais de mim do que eu mesma.
Este seio será teu até quando for bom assim pra nós dois...


obs1: um agradecimento especial ao maridão que levou comidinha na cama todas as vezes que precisei amamentar com Jorge no colo pra poder comer e aos amigos que deram uma bola nas tarefas domésticas sempre que nos visitavam.


obs2: por isso a licença maternidade deveria ser 6 meses, pra que as mães pudessem amamentar exclusivamente seus filhos em paz.


obs: outro agradecimento ao maridão por não me deixar deixar a peteca cair mesmo quando soube que meu contrato de trabalho havia sido rescindido e que teríamos uma queda no orçamento familiar.  E agora me incentiva a trabalhar em casa, só pra poder ficar com Jorge como desejo. Meu amoroso obrigada!

2 comentários:

  1. Kate! É lindo de chorar... Como essa sua poesia - sim , é todo poesia - mexeu comigo, com minhas lembranças de amamentar Maitê. Tesão, essa é a palavra. Entrega mútua ao desejo... Oh, tempo bom. Amamentei Maitê até os 3 anos, hoje ela tem 5 e ainda brinca com meus seios, diz "quero mamar". É bom demais ver o quanto foi importante e prazeroso para ela.
    Siga forte e lindamente nessa entrega!
    Um beijo imenso no Jorge e parabéns pelo apoio, Vidal!!!

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