terça-feira, 20 de abril de 2010

.: Nossa Senhora Aparecida ou O Por do Sol em Madureira :.




Eu moro no Centro do Rio, num lugar lindo, tranquilo e perto de tudo. Minha dentista fica no bairro do Méier, há meia hora de minha casa. Minha Mãe mora na Pavuna, há uma hora de qualquer lugar habitável, seja do Centro ou do Méier. Jorge fica com a minha mãe para que eu possa fazer outras coisas que não só ser mãe, tipo ir ao dentista. Isso significa que levo, no mínimo uma hora para ir e mais outra uma hora para votar do dentista, caso não haja engarrafamentos.
Madureira é um bairro do subúrbio do Rio conhecido por seus sambas, mercados e preços muito baixo, o que gera muita gente nas ruas, que, por sua vez, gera muito, mas muito engarrafamento e ônibus lotados. Das 16h as 20h é um horário de rush, imagino que em qualquer lugar do mundo, inclusive em Madureira, que por acaso, fica no caminho entre mim e minha dentista. As pessoas que lotam as ruas de Madureira nem sempre são moradores, muitas vezes são passantes como eu que desce de um ônibus só para comprar brinquedos para seus filhos, afinal Madureira é a terra dos preços baixos.
E lá estava eu em pé num ônibus lotado em Madureira as 16:45h de uma tarde de 35ºapós sair do engarrafamento quando avisto na calçada ao lado da estrada uma estátua, coberta por um tampo de virdo e sobre um pedestal, de Nossa Senhora Aparecida, cheia de flores em volta. Não era um Patrimônio tombado ou um local turistico ou qualquer coisa criada ou preservada pelo governo. Era simplesmente uma Nossa Senhora no meio do nada, cuidada e guardada pelos moradores locais enfeitando uma estrada. Simples assim.
De pé, no ônibus lotado e cheia de bolsas, fiquei olhando aquela imagem pequena no meio do nada, iluminada por um pôr-do-sol bucólico atrás da linha férra, quase na altura de Oswaldo Cruz, aquele que fica depois de Marureira, perto de Bento Ribeiro. E por um minuto aquela imagem singela no meio do nada me fez esquecer de tudo, os trabalhadores empilhados no ônibus, os rostos cansados a minha volta, as enchentes devastadoras das últimas semanas. Naquele instante pequenininho que me peguei pensando na tal Nossa Senhora próximo ao asfalto iluminada pelo por-do-sol bucólico não havia problemas, de nenhum tipo, pessoal, ambiental, político ou emocional.
E não era por ela ser a tal Senhora que era, não tinha nada a ver com a religião que ela representava ou a que Deus servia ou seja lá a que doutrina ou ideologia pertencia. Não. Não era isso. Era uma beleza simples de ver uma imagem tão bem cuidada no meio do nada, adorada por alguns que se dignavam a deixar flores ali lo asfalto quente, tendo por testemunha somente os carros que ali passavam. Era isso: um instante de beleza. Esse prazer pequeno, efêmero, ao qual todos nós deveríamos nos dar ao luxo ao menos uma vezinha por dia.

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